terça-feira, 12 de julho de 2022

Professor fortalece luta pela identidade do campo em livro Aroeira Verde

 

Maria, Hermenegildo e Sergio Pereira: pais e filho ligados aos movimentos sociais no campo

Abraçado pelos pais, Maria e Hermenegildo, por velhos amigos e colegas da Escola Municipal Rural de Ensino Integral Monte Azul, o professor, poeta e músico Sergio Pereira lançou o livro “Aroeira Verde – causos da roça e contos pantaneiros”, na noite deste 10 de julho, e durante o Sarau Literário despediu-se temporariamente da comunidade escolar do Assentamento Taquaral. A partir de agosto ele inicia novos desafios no Doutorado em Educação pela Universidade da Grande Dourados (UFGD).

No Sarau Literário, Sergio Pereira apresentou as músicas do EP do projeto Pantanal Vive, trabalho (disponível no Youtube) que busca trazer elementos da cultura camponesa e denuncia a devastação do Pantanal.

O livro Aroeira Verde reúne três contos e poesias pantaneiras, que servem de tema para uma de suas vertentes, a contação de histórias. A mãe dele, Maria, que foi diretora da Monte Azul por sete anos e pioneira na formação da escola no Assentamento Taquaral, quando as salas de aula ainda eram de pau a pique cobertas de palha de bacuri, acredita que Sergio jamais perderá os vínculos com a comunidade da Monte Azul. “Não podemos perder nossos vínculos com o campo, a comunidade só perde com isso”, diz.

Maria da Silva Pereira construiu a Sala de Artes que hoje é ocupada por Sergio nas atividades com seus alunos e acabou se tornando um ponto de resistência a todas as tentativas de urbanizarem a escola e retirarem suas raízes do campo.

Em 2018, após se formar no Mestrado em Música pela Udesc de Florianópolis, Sergio ingressou como professor de Arte na Escola Municipal do Ensino Integral Luiz Feitosa Rodrigues. Sua atuação nessa escola, no entorno da comunidade Quilombola Família Ozório e da ex-favela Sarobá, formada por ex-escravizados negros de Corumbá, foi essencial para desenvolver sua arte literária como contista.

Assim vão surgindo os roteiros de histórias como a da Bruxa do Paiaguás; Mãozão e o Zé Tuca; Gumercindo e a Botija de Ouro, contos e fábulas que compõem com leveza poética a temática do livro Aroeira Verde. O livro é resultado de toda reconstrução do fazer artístico, político e social do professor, com uma vida pautada pela luta e a resistência.

Trata-se da trajetória de um sem-terra que veio com a família de Dourados para se estabelecer em um lote da ex-fazenda Taquaral dentro do programa da reforma agrária em Corumbá. Mas antes de se fixar na terra a família de Sergio ficou acampada durante dois anos.

Em 2021 o professor retoma suas atividades na Escola Monte Azul, onde já desenvolvia o projeto Música ao Campo. A Sala de Arte ainda é a mesma, com todos os componentes artísticos acessíveis ao aprendizado e criatividade dos alunos.

Professores Wanderson Ligier e Sergio Pereira: unidos pela música e educação

Ex-aluna da Monte Azul e hoje pedagoga no Cras Albuquerque, Ivonete Guaragni atravessou a cidade para comparecer ao Sarau Literário e adquirir um exemplar de Aroeira Verde. Para ela, Sergio é um exemplo de resistência na escola do campo e graças a ele sobrevive o sarau e o interesse pela literatura. “Só falta um maior envolvimento da comunidade escolar, mas isso vem com tempo e persistência”, comentou a pedagoga. Como ela, outros ex-colegas e alunos foram abraçar o professor na despedida que a maioria espera ser apenas um até logo.

Serviço – Aroeira Verde – causos da roça e contos pantaneiros (Maria Preta Cartonera, 2022, 106 páginas). O livro estará à venda a R$ 40 neste dia 13 de julho a partir das 9h no Museu de História do Pantanal (Muhpan), no Porto Geral, durante a Contação de Histórias por Sergio Pereira. Reservas diretamente com o autor.

Simted Corumbá/Assessoria de Imprensa

Sarau Literário teve músicas autorais e contação de histórias

Ex-aluna Ivonete levou livro autografado
 

 

Rogério e Sérgio: amigos e parceiros no campo
 
Diretor de planejamento Alex Stefani representou o Simted Corumbá

sexta-feira, 8 de julho de 2022

Coordenação do Estado informa que mudanças no Fundamental II estão em andamento

Direção do Simted ouviu a coordenadora regional Patrícia Acioli


As salas de aulas do oitavo e nono anos do Ensino Municipal já foram transferidas para as escolas do Ensino Estadual. E a partir de 2023 será a vez do sétimo ano do Fundamental II também ficar sob a responsabilidade do Estado de Mato Grosso do Sul. Acompanhando cada passo nessa mudança, a direção do Simted ouviu no dia 30 de junho a coordenadora regional de Educação do Estado (CRE-3), Patrícia Oliveira Acioli Amaral, para saber se existe um plano para absorção dos professores do Município pelo Estado nas novas salas de aulas formadas pelas turmas do oitavo e nono anos.

Resposta: não, nenhum plano, pelo menos por enquanto. Nas escolas estaduais onde foram formadas as novas turmas com os alunos oriundos do oitavo e novo anos do Município, todos os professores são licenciados do Estado. “O oitavo e nono da Escola Luiz Feitosa agora estão no JGP, quem está dando aula no JGP é o professor do Estado efetivo concursado”, citou como exemplo a coordenadora regional Patrícia Acioli.

Esse processo de transferência, segundo a coordenadora, começou em 2019, pelo nono ano. Houve um certo desgaste porque mães, pais e alunos cultivavam laços afetivos com a escola municipal desde a educação infantil e não queriam se formar em outra escola. Foi preciso muito diálogo e esclarecimento para resolver a questão, conforme a coordenadora. Depois seguiu-se pela transferência do oitavo ano.


Mas fica a pergunta: se a transferência do Fundamental II do Município para o Estado começou em 2019, por que ainda não existe um plano de absorção dos professores municipais pelo Estado? Será que isso haverá mesmo um dia? Ou o concurso promovido pelo Estado neste ano será suficiente para cobrir toda a demanda provocada pela mudança?


É o que a direção do Simted Corumbá está buscando saber e acompanhar, e para discutir todos os desdobramentos da mudança vai promover uma assembleia com os filiados em breve.

“Queremos saber qual é o plano oficial de readequação dos profissionais de Educação do Município que perderão suas turmas nas escolas do Ensino Municipal”, afirmou o diretor de planejamento do Simted Corumbá, Alex Stefani.

Simted Corumbá/Assessoria de Imprensa

 

quarta-feira, 6 de julho de 2022

Pela defesa dos direitos de Quilombolas e Indígenas

Indígena guarani Valdecir lança grito de alerta em defesa de meio ambiente

A palestra de Valdecir Marques da Silva, indígena da etnia guarani morador da Vila dos Pescadores, no Porto Esperança, distrito de Corumbá, é um grito de alerta do que poderá se tornar a humanidade se providências não forem tomadas para preservar o meio ambiente. “Os fazendeiros estão matando as nascentes dos rios, e quem preserva essas nascentes são os indígenas”, apontou. “Futuramente a guerra vai ser por água, que está acabando”, alertou.

“Temos que pôr na nossa cabeça que temos uma imensa riqueza, mas nos tornamos o país mais pobre do mundo. Quem desfruta dessa riqueza é o povo lá fora, nós continuamos na pobreza. Então vocês mais jovens tem de aprender a valorizar o que têm. Preservem a natureza porque futuramente vai fazer falta”, acrescentou Valdecir.

O indígena guarani foi um dos pontos altos do projeto Resistência Quilombola e Indígena em Mato Grosso do Sul, desenvolvido na Escola Estadual Otacílio Faustino da Silva pelo professor de História José Lourenço Santiago.

Além da palestra, alunos apresentaram e colocaram em exposição trabalhos sobre o tema, entre eles Nicolas Rodrigues de Jesus, aluno do sétimo ano, que mostrou e aprendeu “coisas novas” sobre a população indígena em Mato Grosso do Sul. “A vida deles tem uma parte boa e outra ruim. A ruim é que tem gente jogando coisa ruim na terra deles e muitos sofrem doenças por causa disso”, afirmou Nicolas.

O trabalho dos alunos Laralis e Rafael era uma pesquisa que mostrava novas imagens sobre vestígios de sítios arqueológicos comprovando a presença dos povos originários. “Para as pessoas, é bom (conhecer os sítios arqueológicos), só que precisam colaborar e respeitar a natureza”, alertou Rafael.

Na sala temática, uma velha canoa e folhagens de camalote e aguapé retratavam o bioma pantaneiro, ultimamente tão castigado pelas queimadas; painéis ilustrados por desenhos dos alunos e cartazes impressos colados na parede pediam justiça para as mortes recentes do indigenista brasileiro Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips, executados na Amazônia.

“Eu não sabia muita coisa. Já percebi que o Brasil é um país rico mas ao mesmo tempo pobre, porque busco conhecimento. Sobre os indígenas já tinha ouvido falar. Sobre os quilombolas em Corumbá ainda não havia ouvido falar”, disse Vagner Alves da Silva, do oitavo ano B. “Conhecimento ninguém pode roubar da gente”, acrescentou.


Professor José Lourenço alerta sobre exclusão de povos originários

Governo fascista no poder promove exclusão desses povos, diz professor

O projeto Resistência Quilombola e Indígena em Mato Grosso do Sul é uma mobilização que visa resgatar a cultura dos povos originários e defender seus direitos contra as agressões do capital, de acordo com o professor de História José Lourenço Santiago, coordenador do projeto. “Temos hoje um governo fascista no poder, que provoca a exclusão desses povos, inclusive coloca um Marco Temporal (que retira os direitos de os indígenas reivindicarem suas terras em questões anteriores à Constituição de 1988) que é mais uma violência de um Estado violento”, enfatizou o professor.

“Estamos hoje desenvolvendo esse trabalho que é um resgate da cultura originária e quilombola, a gente notadamente observa as agressões do capital contra essas populações, observa as mineradoras que estão adentrando a Amazonia, as atrocidades cometidas contra as populações originárias”. “A gente tenta trabalhar com as crianças, tentando mostrar junto com eles um viés, refletir, colocar literatura importante para ter o entendimento sobre quem são esses povos originários e quilombolas, essa cultura negra que é a mais excluída e notadamente ocupa a população carcerária do país”, acrescentou o professor.

Cartazes lembram morte de ativistas

Laralis e Rafael: projeto de arqueologia


Indígena guarani Valdecir

Professor José Lourenço Santiago


Projeto é apresentado à comunidade


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