LIVROS




LITERATURA REGIONAL


Uma história política de Mato Grosso do Sul:
boa fonte de consulta para estudantes



O professor e
historiador Wagner Cordeiro Chagas pretende percorrer os 79 municípios doEstado até o final deste ano para entregar um exemplar de seu livro em cada umadas escolas públicas, universidades e sindicatos. Um dos locais visitados foi oSimted Corumbá. Seu objetivo prioritário é fazer a obra chegar às 348 escolas estaduais.

“Uma história política de Mato Grosso do Sul (1977-2022)”, impresso pela Editora Siriema, vem ocupar um espaço importante na literatura regional como narrativa e pesquisa bibliográfica em um recorte que não se restringe à criação do Estado de Mato Grosso do Sul até os dias de hoje, mas aborda também o período deste território ocupado pelas etnias dos povos originários, entre eles os índios canoeiros Guatós e Payaguás.


Também aborda a ocupação e expansão dessas terras pela Coroa Espanhola (com a criação do primeiro povoado, Santiago de Xerez, no território hoje urbanizado de Aquidauana), a entrada dos bandeirantes paulistas em busca do ouro de Vila Real do Senhor Bom Jesus de Cuiabá, a criação da capitania de Mato Grosso e, já no século 20, os primeiros movimentos para a divisão de Mato Grosso em dois estados, culminando com o decreto assinado pelo general Ernesto Geisel em 1977 e o surgimento de Mato Grosso do Sul. É importante ressaltar o cuidado e eficácia do autor na consulta de uma diversificada rede de fontes formada por historiadores regionais para contextualizar e narrar os principais momentos deste recorte histórico.

O professor recorre à historiadora Marisa Bittar para enfatizar que a divisão do Estado ocorreu sem uma consulta popular e que agradou a apenas um lado da população, tendo ocorrido uma “passeata monstro” em Campo Grande para comemorar a criação do novo Estado.

A documentação digitalizada com recortes das principais publicações da época é um ponto de destaque na obra, remetendo o leitor a uma linha do tempo que enriquece a veracidade dos fatos.  “Campo Grande, o novo Estado” foi o presunçoso título grafado pelo Diário da Serra, na cidade que já se via e se comportava como a nova Capital e que, se dependesse de alguns políticos, seria o nome do novo Estado. “O estado-sonho tornava-se, enfim, estado-realidade. Provavelmente, porém, o sonho não era de
todos. A população, privada de participação, mostrou, com o seu silêncio, um misto de indiferença e aprovação”, descreveu a historiadora Bittar.

Para Geisel, a divisão era necessária para a segurança nacional e o desenvolvimento econômico, que no seu entender caminhavam juntas. Nem seria preciso citar o interesse político, já que a criação de um novo Estado ampliava as bases parlamentes da ditadura no Congresso por meio do partido situacionista Arena e combatia o avanço do MDB.

A ideia de escrever o livro, segundo Wagner Chagas, surgiu durante o período em que preparava sua dissertação de mestrado, quando reuniu uma grande quantidade de documentos, o que o levou a ampliar sua pesquisa sobre a história política de Mato Grosso do Sul.

A narrativa se aprofunda em fatos e números com muita propriedade, mas carece de um tom mais crítico e direto ao se referir à oligarquia dominante enraizada no Estado que acabou
dando respaldo ao avanço do bolsonarismo, tendo como alicerce o agronegócio. Tanto
é que os dois candidatos que mediram forças nas eleições de 2022 para
governador, Eduardo Riedel e Capital Contar, eram igualmente apoiadores de
Bolsonaro, que no Estado ganharia de Lula no segundo turno com quase 60% dos votos.

A citação do autor na página 211 é importante para a memória dos trabalhadores: “A reforma da
Previdência Social que o governo Temer não conseguiu fazer, saiu do papel com o
governo Jair Bolsonaro (PSL). Entre outras mudanças para a classe trabalhadora,
ela trouxe o aumento de idade para se aposentar (62 anos para mulheres e 65
para homens), o fim da aposentadoria especial para professores e a taxação dos
já aposentados”.

Além de fontes jornalísticas, o professor utilizou dados bibliográficos disponíveis no Centro
de Documentação Regional da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) e
entrevistas com quatro ex-governadores.

Conforme o autor, o objetivo era oferecer um livro com linguagem acessível a um público: estudantes e
professores do ensino básico das escolas de Mato Grosso do Sul. Sem dúvida,
trata-se de um livro politicamente correto, bem ilustrado e muito fácil de ler.

A narrativa minuciosa dos fatos levam o leitor a deduzir que o Estado criado a canetada pela ditadura
abraçou a linha neoliberal, adotou o binômio boi-soja na sua economia e, como
prometera, tornou-se modelo de desenvolvimento no país – um modelo, bem
entendido, favorável à iniciativa privada e à classe dominante, mas quase sempre
danosa à classe trabalhadora, aos servidores públicos da educação, às etnias
indígenas e ao Pantanal, bioma tombado como patrimônio da humanidade em
permanente situação vulnerável diante política de mercado do agronegócio
baseada no lucro custe o que custar.

Serviço: “Uma história política de Mato Grosso do Sul (1977-2022)”, Editora Siriema, 312
páginas, de Wagner Cordeiro Chagas, mestre em História pela UFGD, professor do
ensino básico na rede estadual de Fátima do Sul-MS. Dourados, 2022.




DOLORES E A GUERRA DO CHACO

Jornalista corumbaense lança livro bilingue na comunidade boliviana

Novo livro do escritor corumbaense Luiz Taques, “Aposto que você nem sabia do namoro dela com um ex-combatente da guerra do Chaco” é uma edição bilingue com tradução para o espanhol por conta do professor de História e articulista Ahmad Schabib Hany. “Queria falar apenas da Guerra do Chaco. Mas não conseguia. Pressentia que necessitava de uma companhia para dialogar comigo. Afinal, abordar sozinho madrugada adentro batalhas fratricidas não era moleza, não. Desse modo nascia Dolores, a personagem central deste conciso drama fronteiriço”, relata Luiz Taques na abertura do livro.  Um livro que fala dos amores de Dolores e das atrocidades humanas em solo chaquenho, envolvendo Bolívia e Paraguai, entre 1932 e 1935. Com o brilho genial da escrita do corumbaense Taques, premiado jornalista defensor dos direitos humanos. Prêmio Herzog. O livro foi lançado na Praça de Nossa Senhora de Urkupiña, santa boliviana, no dia das celebrações da Independência da Bolívia. Salsa, merengue, cumbia foram alguns dos ritmos tocados pelo grupo Sombras de América, que veio de Puerto Quijarro, cidade irmã da fronteira com a Bolívia, para animar os festejos. Brasileiros e bolivianos dançaram e cantaram na praça que hoje é o centro da maior comunidade boliviana - para onde a fronteira avançou e se faz presente - em Corumbá. 

Serviço: Livro "Aposto que você nem sabia do namoro dela com um ex-combatente da guerra do Chaco", 72 páginas. Editora Maria Petrona, Londrina-PR. 2022. O livro custa R$ 39,90. (frete incluso para envio pelo Correios) e pode ser adquirido por meio do PIX luiztaques@gmail.com.




ENSAIO FRANKFURTIANO

Isabella denuncia ‘duplicidade de conceitos’ em Perrenoud

Lançado neste sábado, 9 de julho, na Unidade III do Campus Pantanal da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), o livro “Os ciclos de Aprendizagem – Um ensaio frankfurtiano sobre a teoria de Perrenoud”, da professora Isabella Fernanda Ferreira, busca desmistificar, por meio do pensamento filosófico crítico, a promessa de solução do fenômeno do fracasso escolar elaborada e utilizada pelo sociólogo suíço Philippe Perrenoud. “Ao deixarmos em evidência o caráter ideológico camuflado da sua própria construção conceitual, denunciamos a falsidade de sua síntese teórica” (p.151), afirma a autora.
Perrenoud, de acordo com a autora, “é defensor de uma abordagem de ensino que denomina de pedagogia diferenciada. Entretanto, são muitas as pedagogias diferenciadas e aquela que ele enfatiza como meio possível para o combate a toda problemática sobre o ‘fracasso escolar’ seria a pedagogia das competências, na qual os ciclos de aprendizagem seriam, com os princípios que a norteiam, a maneira mais coerente de estruturar/materializar tal modelo pedagógico nos estabelecimentos de ensino”.
Segundo a autora, Perrenoud conseguiu ser mais influente do que muitos pensadores clássicos da história da pedagogia tendo o seu modelo pedagógico implantado em várias regiões do Brasil nos anos 90”.
Pedagoga e doutora em Educação pela Unesp, Isabela acrescenta (p. 148) que “pela duplicidade dos conceitos, procuramos desmistificar os conceitos elaborados e utilizados por Perrenoud por meio da revelação da sua duplicidade que não é apresentada na própria teoria e, que por não ser apresentada se torna ideológica e, por isso, mitologizada.”
E a autora ainda destaca que “todos esses aspectos analisados configuram uma totalidade que indica que a “promessa de felicidade” da obra pedagógica de Perrenoud, no que concerne ao fenômeno do fracasso escolar e as desigualdades sociais entre os alunos, é um produto cultural que não se sustenta nas suas próprias premissas teóricas”.
E em suas Conclusões Finais (p.149), a pedagoga clama por uma perene reflexão sobre a própria produção intelectual: “A consciência da condição objetiva e subjetiva desse estado generalizado de semiformação, característico do modo de produção capitalista vigente, reforça ainda mais a necessidade de uma perene reflexão sobre a própria produção intelectual no que concerne às temáticas educacionais pelo fato de elas também não estarem isentas desses mecanismos ideológicos da indústria cultural que estandardiza, inclusive, os produtos culturais”.
O evento conclusivo dos estudos do semestre do Mestrado em Educação do Campus Pantanal da UFMS, na Unidade III, em Corumbá, reuniu alunos em uma palestra sobre o tema.
Isabella Fernanda Ferreira é professora do Programa de Pós-graduação em Educação da UFMS/CPAN e pós-doutoranda e Ciências Sociais pela Universidade de Buenos Aires. É uma das fundadoras da Rede de Pesquisa Nexos – Teoria Crítica e Pesquisa Interdisciplinar e líder da Regional Centro-Oeste/Norte.
Serviço: O livro Os ciclos de Aprendizagem – Um ensaio frankfurtiano sobre a teoria de Perrenoudb (Editora CRV, Curitiba-PR, 162 páginas) está à venda no site da Editora CRV (www.editoracrv.com.br) em edição impressa (R$ 44,28) mais frete, e edição digital (R$ 35,28). O frete nacional para três livros tem 50% de desconto e o frete para cinco livros é gratuito.






COMÉDIA DRAMÁTICA

Zamo rediscute poesia de Lobivar Matos em diálogos geográficos

Uma análise completa da vida e obra do poeta homenageado no Festival América do Sul Pantanal pode ser conferida no livro “Comédia dramática da vida: diálogos geográficos em torno da poesia de Lobivar Matos” (Editoria Dialética, 188  páginas) de João Carlos Ibanhez, o Zamo, apresentado sábado, 28 de maio, no Muhpan (Museu de História do Pantanal), no Porto Geral.

O poeta corumbaense Lobivar Matos (1915-1947) é considerado o primeiro modernista do Mato Grosso uno. Na sua primeira obra, Areôtorare (1935), o escritor decortina as lendas boróras que são proferidas pelo indígena mais sábio da comunidade.

Na segunda obra, Sarobá (1936), publicado pela Minha Livraria Editora, o poeta verseja o cotidiano de um bairro negro do mesmo nome (Sarobá, hoje varrido do mapa e substituído pelo nome de Borrowiski, que foi dono de uma pedreira na região). “A favela Sarobá funcionava em lógica diferenciada do restante da sociedade, com sujeitos que se aglomeraram no lugar depois de ficarem livres da escravidão”, diz Zamo.

Um bairro onde o resto da sociedade repugna e se remete quando lhe convém, quando precisam dos serviços de um negrinho ou interessados em alguma negra, como relatava Lobivar. 

Um lugar ocupado pelos excluídos da sociedade, representados por Lobivar no poema O suicida:

Ele veio de longe...

Trazia uns níqueis no bolso e uma grande ilusão dos homens.

Chegou aqui e andou pela cidade toda procurando emprego.

Pediu de casa em casa e ninguém tinha emprego para lhe dar.

Ontem à tarde, fechou-se no quarto,

Escreveu uma porção de cartas;

Deitou-se no jornal estendido no assoalho,

Refletiu meia hora no que ia fazer

E achou que era o maior desgraçado do mundo

E que o único remédio era acabar com aquela vida infame e miserável,

Aquela vida de incerteza e de angústia

Depois, angustiado e delirante, o pobre diabo abriu a janela. E se esborrachou no chão.

Logo os jornais falaram do ato tresloucado do rapaz.

Estamparam sua fotografia na primeira página.

Contaram lorotas sobre a vida do suicida

E aumentaram a tiragem consideravelmente.

Entretanto, o moço também batera à porta dos jornais.

SOBRE O AUTOR

João Carlos Ibanhez, morador do Assentamento 72, em Ladário-MS, nasceu em Corumbá-MS. Trabalhou por um bom tempo como almoxarife em uma empreiteira. Músico e compositor desde adolescente, toca nas bandas Androide Melancólico e Resistência Suicida. Formado em Geografia, sua dissertação de mestrado é uma "linha de fuga" geográfica com a poesia do poeta corumbaense Lobivar Matos. No momento conecta um fluxo espacial esquizofrênico, defendendo uma tese sobre o realismo mágico em "Cem anos de solidão", de Gabriel Garcia Marquez.

Serviço: O livro Comédia dramática da vida: diálogos geográficos em torno da poesia de Lobivar Matos” (Editoria Dialética, 188  páginas) de João Carlos Ibanhez, o Zamo,   pode ser adquirido pela loja online da Editoria Dialética (São Paulo): www.editoradialetica.com

 

 


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