REPORTAGENS

SEMINÁRIO DOS ASSENTAMENTOS
Escola Agroecológica e Agrotécnica de Ensino Médio  
é proposta para manter jovens ligados às suas raízes




A instalação da Escola Agroecológica e Agrotécnica do Ensino Médio foi a principal proposta do setor Educação no 1º Seminário de Desenvolvimento Sustentável dos Assentamentos e Comunidades Tradicionais de Corumbá e Ladário, realizado no dia 29 de abril na Escola Municipal Rural de Ensino Integral Monte Azul, no Assentamento Taquaral, em Corumbá. Tem por objetivo fortalecer o elo dos jovens estudantes com o campo, além de despertar neles o desejo de abraçar profissões ligadas às raízes campesinas e ao meio ambiente, como veterinário, agrimensor, biólogo, geógrafo, antropólogo e outras.

O Seminário, que contou basicamente com trabalhadores do campo, sindicalistas, dirigentes de associações, além de assessores parlamentares convidados, foi a culminância da Marcha dos Esquecidos, promovida com o intuito de alertar a sociedade para as questões cruciais que impedem o livre exercício do agricultor assentado ou familiar: as apreensões de leite e queijo produzido por camponeses feitas agora sistematicamente pelo Iagro (Agência Estadual de Defesa Sanitária Animal e Vegetal de Mato Grosso do Sul), concomitantemente com situações irregulares negligenciadas pelo próprio poder público, como a falta de um sistema de água potável nos assentamentos e a existência do Lixão Municipal a menos de 2 km dos sítios.

O Seminário contou com o apoio do Sindicato Municipal dos Trabalhadores em Educação (Simted Corumbá).

Veja as propostas apresentadas no 1º Seminário de Desenvolvimento Sustentável dos Assentamentos e Comunidades Tradicionais de Corumbá e Ladário:

SETOR DE PRODUÇÃO

1. Implantação e Implementação de um Laticínio completo, inclusive com laboratório de análise, com capacidade de atender as famílias produtoras de leite bovino de todos os assentamentos da região, produzindo queijos, muçarela, manteiga, bebida láctea, iogurte e leite em saquinho.

2. Formação de uma equipe multidisciplinar de gestão do laticínio com representantes de todas as associações interessadas, de maneira a buscar a formação e consolidação de um processo futuro de organização de uma cooperativa mista.

3. Elaboração de um dossiê relatando os processos históricos que aconteceram na trajetória dos assentamentos, projetos ligados à produção, de maneira a não se repetir os erros do passado.

4. Realizar um levantamento dos materiais, equipamentos, veículos e outros recursos que foram destinados ao antigo laticínio que veio a falência e registrar os materiais sem condições de uso e os que possam ainda ser utilizados no novo laticínio.

5. Adequação dos editais do PNAE e PAA para receber os produtos lácteos dos assentamentos e comunidades tradicionais, sejam individuais ou do laticínio.

6. Apoio a implantação de queijarias individuais com objetivo de se obter o Selo Art.

7. Desburocratização e apoio às iniciativas de legalização sanitária de todos os produtos de origem animal e vegetal dos assentamentos e comunidades tradicionais do Pantanal.

8. Elaboração de projetos de abatedouro de pequenos animais e cozinhas industriais.

9. Implantação e implementação do Mercado do/a Produtor/a.

SETOR DE EDUCAÇÃO

1. Implantação e implementação no Assentamento Taquaral, Agrovila 3, de uma Escola Agroecológica e Agrotécnica de Ensino Médio em Regime Alternância que se fundamente por atender os princípios da Educação do Campo, podendo ter potencial de atender projetos de Formação Superior de Universidades parceiras.

2. Atendimento com alojamentos e transporte a estudantes de áreas distantes em outros assentamentos ou regiões do Pantanal.

3. Educação Integral para o mundo do trabalho e a cultura camponesa, tomando como elemento principal de formação em agroecologia e agrotécnica o polo agroindustrial que deverá ser acoplado às práticas educacionais e de gestão cooperativista, e, tomando como campo experimental os lotes da Reforma Agrária dos/as estudantes ou espaços das Comunidades Tradicionais do Pantanal conforme as aptidões locais.

 4. Adequação e reformulação dos PPP das escolas municipais de ensino fundamental dos assentamentos e comunidades tradicionais.

5. Adequação dos processos seletivos para ingresso dos/as estudantes formados nas Licenciaturas em Educação do Campo, seja em processos simplificados ou concursos públicos.

6. Apoio e encaminhamento do Termo de Cooperação Técnica da FAIND/UFGD com a Secretaria Municipal de Educação de Corumbá.

Setor Políticas Públicas para Mulheres e Juventude:

1. Projetos que levem a geração de renda.

 2. Centros de convívio onde se tenha equipamentos de promoção da sociabilização, como praças, centros culturais, casas de apoio às mulheres.

3. Construção de praças de esporte.

 4. Projetos culturais com formação em artes como música, teatro, artesanato, artes plásticas e bibliotecas públicas de livre acesso.

Água potável, desativação do Lixão: questões graves
do Meio Ambiente aguardam solução há décadas


Ainda existem 2707 lixões no Brasil, de acordo com levantamento  recente do Ministério do Meio Ambiente. E Corumbá e Ladário são duas dessas cidades portadoras de um lixão proveniente de coleta conjunta de cerca de 100 toneladas diárias de dejetos. No país, apenas 40% dos municípios possuem Aterro Sanitário. Pela legislação, os lixões hoje estão enquadrados como ``crime ambiental´´ e por isso desde 2010 há um prazo estabelecido pelo Ministério de Meio Ambiente para sua desativação. Passados 12 anos, Corumbá e Ladário continuam abraçados à irregularidade na saída do bairro Nova Corumbá e a menos de 2 km do Assentamento Taquaral .

A remoção imediata do Lixão Municipal foi uma das propostas discutidas e deliberadas durante o 1º Seminário de Desenvolvimento Sustentável dos Assentamentos e Comunidades Tradicionais de Corumbá e Ladário, realizado no dia 29 de abril na Escola Municipal Rural de Ensino Integral Monte Azul.

O lixão coloca em risco as bacias hidrográficas dos assentamentos Taquaral, Tamarineiro e Baía do Jacadigo, no Pantanal. O chorume, líquido tóxico, resultante de decomposição dos resíduos orgânicos, contamina o lençol freático, córregos, riachos e outras nascentes. No local onde a água já é escassa e comprometida elo excesso de calcário—a água é salobra— a questão de abastecimento de água potável fica mais grave.

REDE DE ÁGUA

Nesse contexto, os trabalhadores do campo pedem a implantação de rede de água potável para todos assentamentos e comunidades tradicionais de Corumbá e Ladário. Reivindicação, aliás, que remonta os tempos da implantação dos assentamentos nos anos 1980.

Pedem também a implantação de caixas d’agua, perfuração e reforma de poços artesianos que contenham água salobra, para mitigação dos problemas de fornecimento de água aos animais e uso das residências. Por fim, pedem a implantação de dessalinizadores até que não se tenha água potável.

ATIVISTA  DA FOB


Lúcio Alves, ativista do Movimento Terra Liberta (Ceará) e da Federação das Organizações Sindicalistas Revolucionárias do Brasil (FOB), apontou a importância da classe trabalhadora para o fortalecimento do movimento no campo, citando experiências do Ceará.  ``Não queremos terra por terra, queremos discutir todas as demandas e construir coletivamente propostas, encaminhar ao poder público e exigir nossos direitos´´, ressaltou.

E disse mais: ``A repressão aos assentados vem do Agronegócio, os órgãos de repressão estão ligados a um modelo injusto, e só o povo pode construir uma saída de fato´´.

O camponês José Adeildo dos Santos, da comissão de organização do Seminário., lamentou que ``de R$ 7 milhões de recursos destinados via Incra para instalação de cisternas (para captação de água da chuva) apenas 36% foram usados, e mesmo assim a maioria das cisternas estão hoje quebradas, comprometendo o sistema de captação de água potável´´. Adeilton usou um velho lampião de gás como metáfora para refletir a luta no campo. “Esse lampião estava lá na época dos barracos de lona, cheio de luz e carregado de gás, hoje muitos de nós estamos como ele, apagados e sem força para lutar, depois de tantas dificuldades. Precisamos novamente, tentar mais uma vez, recarregar nossas forças e seguir. Esse seminário pode dar esse caminho”.

 

Adeildo e o velho lampião de gás: exemplo para a luta no campo

 

 

 


Um comentário:

  1. Agradecimentos à competência do jornalista Nelson Urt e ao SIMTED Corumbá-MS por esta visão do movimento dos assentados aqui na nossa cidade. O urbano é o rural unidos para o atingimento de um único objetivo: COMIDA NA MESA.

    ResponderExcluir

MAIS VISTAS