O ADEUS
PROFESSORA CREUZA, REFERÊNCIA NA EDUCAÇÃO
Para ela, exercer o Magistério era um ato de amor, um comprometimento: “A Educação ainda é o melhor meio de transformação de uma sociedade”, dizia. Após mais de três décadas em salas de aula, tendo começado em 1972 e encerrado em 2004, Creuza sabia muito bem diferenciar as mudanças e transformações no ensino público e privado. “Antes o que a gente via era uma postura de respeito, eu só entrava em sala de aula depois que todos estivessem de pé e dissessem “bom dia, professora!”, mas hoje você entra e sai e muitas vezes o aluno nem toma conhecimento”, afirmou em uma de suas últimas entrevistas para a imprensa. “O que vejo é falta de educação”.
Creuza Elizabeth da Matta nos
deixou de repente, aos 70 anos, vítima de AVC, na manhã de 5 de abril.
Professora de História e Geografia, cantora, catequista ligada à Paróquia de
Santo Antônio, em Ladário, lecionou na Escola Salesiana Santa Teresa de 1974 a
2007, e ainda na Escola Tenir e no Centro Integrado de Educação e Cultura
(CIEC).
Cuiabana de nascimento, chegou a
Ladário com a família aos 4 anos de idade e completou seus estudos básicos no
Colégio Franciscano São Miguel de Ladário. Ainda jovem deu aulas para adultos
no Mobral (Movimento Brasileiro de Alfabetização).
Muito ligada à igreja católica,
devota de Santo Antônio, chegou a pensar em ser freira, mas no decorrer do
tempo desistiu da ideia e acabou optando pelo Magistério. Manteve, porém, seu
convívio com os jovens como catequista da Paróquia de Santo Antônio de Ladário.
Citava com muito respeito a
professora Regina Baruki, que a levou para dar aulas na Escola Salesiana Santa
Teresa quando ainda cursava o primeiro ano de História na faculdade. “Se hoje
existem alunos bem melhores do que eu é porque fiz bem o meu trabalho”, dizia.
Creuza fazia críticas contundentes
ao sistema educacional. “A existência de bons professores hoje é mais difícil
por causa da desvalorização do Magistério, muitos fazem opção por outras
profissões, o Magistério está quase que perdendo atrativo para a geração atual”,
lamentava, com uma ressalva importante para os que escolhem a profissão: “O
Magistério tem de ser um ato de amor, e quem quer ser professor, tem de ser um
bom professor, comprometido”.
Ela também se destacou no mundo
cultural e, como cantora, participou das Noites de Seresta no Coreto Municipal
em Ladário, onde tinha muitos fãs. Pertencia a uma família de músicos notáveis,
que tem como expoentes seus sobrinhos Rodrigo da Matta, vocalista da banda
Exilados; Gabriel Omar, do Andróide Melancólico; e Rafael Omar, do grupo Duo
Chipa. Na missa de corpo presente, na noite de 6 de abril, na Capela de Santo
Antônio, em Ladário, foi entoadas ao vivo uma de suas canções
preferidas, “Lenha”, de Zeca Baleiro, cuja poesia teceu o momento de maior
comoção na sua despedida:
“Se eu digo pare/Você não
repare/No que possa parecer/Se eu digo siga/O que quer que eu diga/Você não vai
entender. Mas se eu digo venha/Você traz a lenha/Pro meu fogo acender”.
SEMINÁRIO DOS ASSENTAMENTOSEscola Agroecológica e Agrícola de Ensino Médio
é proposta para manter jovens ligados às suas raízes
A instalação da Escola Agroecológica e Agrícola do Ensino Médio foi a principal proposta do setor Educação no 1º Seminário de Desenvolvimento Sustentável dos Assentamentos e Comunidades Tradicionais de Corumbá e Ladário, realizado no dia 29 de abril na Escola Municipal Rural de Ensino Integral Monte Azul, no Assentamento Taquaral, em Corumbá. Tem por objetivo fortalecer o elo dos jovens estudantes com o campo, além de despertar neles o desejo de abraçar profissões ligadas às raízes campesinas e ao meio ambiente, como veterinário, agrimensor, biólogo, geógrafo, antropólogo e outras.
O Seminário, que contou basicamente com trabalhadores do campo,
sindicalistas, dirigentes de associações, além de assessores parlamentares
convidados, foi a culminância da Marcha dos Esquecidos, promovida com o intuito
de alertar a sociedade para as questões cruciais que impedem o livre exercício
do agricultor assentado ou familiar: as apreensões de leite e queijo produzido
por camponeses feitas agora sistematicamente pelo Iagro (Agência Estadual de
Defesa Sanitária Animal e Vegetal de Mato Grosso do Sul), concomitantemente com
situações irregulares negligenciadas pelo próprio poder público, como a falta de um sistema de água potável nos assentamentos e a existência do Lixão Municipal a menos de 2 km dos sítios.
O Seminário contou com o apoio do Sindicato Municipal dos Trabalhadores em Educação (Simted Corumbá).
Veja as propostas apresentadas no 1º Seminário de
Desenvolvimento Sustentável dos Assentamentos e Comunidades Tradicionais de
Corumbá e Ladário:
SETOR DE PRODUÇÃO
1. Implantação e Implementação de um Laticínio completo,
inclusive com laboratório de análise, com capacidade de atender as famílias
produtoras de leite bovino de todos os assentamentos da região, produzindo
queijos, muçarela, manteiga, bebida láctea, iogurte e leite em saquinho.
2. Formação de uma equipe multidisciplinar de gestão do
laticínio com representantes de todas as associações interessadas, de maneira a
buscar a formação e consolidação de um processo futuro de organização de uma
cooperativa mista.
3. Elaboração de um dossiê relatando os processos históricos
que aconteceram na trajetória dos assentamentos, projetos ligados à produção,
de maneira a não se repetir os erros do passado.
4. Realizar um levantamento dos materiais, equipamentos,
veículos e outros recursos que foram destinados ao antigo laticínio que veio a
falência e registrar os materiais sem condições de uso e os que possam ainda
ser utilizados no novo laticínio.
5. Adequação dos editais do PNAE e PAA para receber os
produtos lácteos dos assentamentos e comunidades tradicionais, sejam
individuais ou do laticínio.
6. Apoio a implantação de queijarias individuais com objetivo
de se obter o Selo Art.
7. Desburocratização e apoio às iniciativas de legalização
sanitária de todos os produtos de origem animal e vegetal dos assentamentos e
comunidades tradicionais do Pantanal.
8. Elaboração de projetos de abatedouro de pequenos animais e
cozinhas industriais.
9. Implantação e implementação do Mercado do/a Produtor/a.
SETOR DE EDUCAÇÃO
1. Implantação e implementação no Assentamento Taquaral,
Agrovila 3, de uma Escola Agroecológica e Agrotécnica de Ensino Médio em Regime
Alternância que se fundamente por atender os princípios da Educação do Campo,
podendo ter potencial de atender projetos de Formação Superior de Universidades
parceiras.
2. Atendimento com alojamentos e transporte a estudantes de
áreas distantes em outros assentamentos ou regiões do Pantanal.
3. Educação Integral para o mundo do trabalho e a cultura
camponesa, tomando como elemento principal de formação em agroecologia e
agrotécnica o polo agroindustrial que deverá ser acoplado às práticas educacionais
e de gestão cooperativista, e, tomando como campo experimental os lotes da
Reforma Agrária dos/as estudantes ou espaços das Comunidades Tradicionais do
Pantanal conforme as aptidões locais.
4. Adequação e
reformulação dos PPP das escolas municipais de ensino fundamental dos
assentamentos e comunidades tradicionais.
5. Adequação dos processos seletivos para ingresso dos/as
estudantes formados nas Licenciaturas em Educação do Campo, seja em processos
simplificados ou concursos públicos.
6. Apoio e encaminhamento do Termo de Cooperação Técnica da
FAIND/UFGD com a Secretaria Municipal de Educação de Corumbá.
Setor Políticas Públicas para Mulheres e Juventude:
1. Projetos que levem a geração de renda.
2. Centros de convívio
onde se tenha equipamentos de promoção da sociabilização, como praças, centros
culturais, casas de apoio às mulheres.
3. Construção de praças de esporte.
4. Projetos culturais
com formação em artes como música, teatro, artesanato, artes plásticas e
bibliotecas públicas de livre acesso.
Ainda existem 2707 lixões no Brasil, de acordo com levantamento recente do Ministério do Meio Ambiente. E Corumbá e Ladário são duas dessas cidades portadoras de um lixão proveniente de coleta conjunta de cerca de 100 toneladas diárias de dejetos. No país, apenas 40% dos municípios possuem Aterro Sanitário. Pela legislação, os lixões hoje estão enquadrados como ``crime ambiental´´ e por isso desde 2010 há um prazo estabelecido pelo Ministério de Meio Ambiente para sua desativação. Passados 12 anos, Corumbá e Ladário continuam abraçados à irregularidade na saída do bairro Nova Corumbá e a menos de 2 km do Assentamento Taquaral .
A remoção imediata do Lixão Municipal foi uma das
propostas discutidas e deliberadas durante o 1º Seminário de
Desenvolvimento Sustentável dos Assentamentos e Comunidades Tradicionais de
Corumbá e Ladário, realizado no dia 29 de abril na Escola Municipal Rural de
Ensino Integral Monte Azul.
O lixão coloca em
risco as bacias hidrográficas dos assentamentos Taquaral, Tamarineiro e Baía do
Jacadigo, no Pantanal. O chorume, líquido tóxico, resultante de decomposição
dos resíduos orgânicos, contamina o lençol freático, córregos, riachos e outras
nascentes. No local onde a água já é escassa e comprometida elo excesso de
calcário—a água é salobra— a questão de abastecimento de água potável fica mais
grave.
REDE DE ÁGUA
Nesse contexto, os
trabalhadores do campo pedem a implantação
de rede de água potável para todos assentamentos e comunidades tradicionais de
Corumbá e Ladário. Reivindicação, aliás, que remonta os tempos da implantação
dos assentamentos nos anos 1980.
Pedem também a implantação de caixas d’agua,
perfuração e reforma de poços artesianos que contenham água salobra, para
mitigação dos problemas de fornecimento de água aos animais e uso das
residências. Por fim, pedem a implantação de dessalinizadores até que não se
tenha água potável.
ATIVISTA DA
FOB
Lúcio Alves, ativista do Movimento Terra Liberta (Ceará) e da Federação das Organizações Sindicalistas Revolucionárias do Brasil (FOB), apontou a importância da classe trabalhadora para o fortalecimento do movimento no campo, citando experiências do Ceará. ``Não queremos terra por terra, queremos discutir todas as demandas e construir coletivamente propostas, encaminhar ao poder público e exigir nossos direitos´´, ressaltou.
E disse mais: ``A repressão aos assentados vem do
Agronegócio, os órgãos de repressão estão ligados a um modelo injusto, e só o
povo pode construir uma saída de fato´´.
O camponês José Adeildo dos Santos, da comissão de organização do
Seminário., lamentou que ``de R$ 7 milhões de recursos destinados via Incra para
instalação de cisternas (para captação de água da chuva) apenas 36% foram usados,
e mesmo assim a maioria das cisternas estão hoje quebradas, comprometendo o
sistema de captação de água potável´´. Adeilton usou um velho lampião de gás como metáfora para refletir a luta no campo.
Adeildo e o velho lampião de gás: exemplo para a luta no campo |
Agradecimentos à competência do jornalista Nelson Urt e ao SIMTED Corumbá-MS por esta visão do movimento dos assentados aqui na nossa cidade. O urbano é o rural unidos para o atingimento de um único objetivo: COMIDA NA MESA.
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