A violação dos direitos humanos no Catar, país sede da Copa do Mundo de Futebol de 2022, foi o tema da Roda de Conversa ``O outro lado da Copa´´, que contou com apoio do Sindicato Municipal dos Trabalhadores em Educação (Simted Corumbá), na manhã de 2 de dezembro, na Escola Estadual Otacílio Faustino da Silva.
O evento fez parte do Projeto Copa do Mundo no Catar, com desfile de bandeiras e trajes típicos dos 32 países participantes da Copa, torneio de ``embaixadinhas´´ (controle de bola), apresentações musicais (com os cantores Braguinha e Paulo César) e show circense com o palhaço chileno Caradura, além de exposição de arte de alunos (pinturas à guache).
A Roda de Conversa integrou o subtema História Crítica, Cultura, Política e Sociedade na Copa do Mundo, de autoria do professor José Lourenço Santiago, e teve explanação do jornalista e assessor de Imprensa do Simted Nelson Urt, com participação e apoio do presidente do Simted Gabriel Omar Postigliatti. Outro subtema, de autoria da professora Adriana Costa, contou com exposição de bandeiras de países participantes da Copa no Catar, com confecção artesanal e material reciclado.
O OUTRO LADO DA COPA
De acordo com dados divulgados pelas Ongs (Organizações não governamentais) Anistia Internacional e Human Rights Watch (Observatório dos Direitos Humanos), o Catar está entre os países com as piores condições de vida para mulheres, devido à discriminação sistêmica contra elas.
Pessoas do grupo LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgêneros) não são aceitos. A homossexualidade é criminalizada, com penas que variam de 7 a 10 anos de prisão para casos confirmados de relacionamentos entre homens e entre mulheres.
Leis, regulamentos e práticas do Catar impõem regras discriminatórias de tutela masculina (quem manda é o homem), negando às mulheres o direito de tomar decisões importantes sobre suas vidas. É negado a elas o direito de trabalhar em determinados postos do Governo e até de receber cuidados de saúde reprodutiva (exames ginecológicos, por exemplo). Para estudar no Exterior ou para se casar precisam obter permissão de seus ``guardiões´´ (homens que mandam na casa). Denúncias de estupro acabam se voltando contra a mulher, já que podem ser consideras como uma confissão.
Diante de todo esse quadro, surge a pergunta: como é que um País que viola explicitamente os Direitos Humanos e sem nenhuma tradição no futebol é escolhido para sediar o maior evento do esporte mundial?
Parece simples, mas é um fato: País mais rico do mundo, com renda per capita de 124 mil dólares, turbinado por altas reservas de petróleo e gás natural, membro da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), o Catar encontra hoje no mundo capitalista o campo perfeito para disseminar sua filosofia pragmática de ``pagou/levou´´.
DITADURA MONÁRQUICA
Trata-se de uma Monarquia Absolutista (ditadura), sem partidos, sem eleições, no poder desde 1825, governada pela mesma família Al Thani, baseada em um Código Penal e outras leis medievais, amparada por uma fortuna incalculável.
Para se ter uma ideia, o Reino do Catar comprou o principal time de futebol da França, o PSG, que passou a contar com os supercraques Neymar e Messi, além de manter o francês M´bapé. A força dos petrodólares comprou também a influência dos principais órgãos reguladores do esporte europeu, como a Federação Internacional de Futebol (FIFA) e a União Europeia de Futebol (UEFA). Nasser Al Khelaifi, amigo do rei do Catar e presidente do PSG, ganhou a presidência da Associação de Clubes Europeus.
Pela lógica do mercado capitalista do futebol, o Catar, como dono da bola, entrou pela porta da frente no clube dos poderosos do futebol mundial e ganhou o direito de sediar e disputar a Copa do Mundo 2022. Há suspeitas de que os dirigentes da FIFA foram subornados para a escolha do País que nem estádio de futebol adequado possuía e teve de construir 8 às pressas. Mas nem seria preciso suborno, dado o enorme poder de barganha que a estrutura mercantilista do futebol oferece a reinos bilhardários como o Catar. Tamanha influência permitiu que a seleção do Catar participasse, como convidada, da Copa América de 2019, disputada no Brasil.
MORTES SÚBITAS NAS OBRAS
O reino gastou US$ 220 bilhões de dólares para construir toda a infraestrutura para a Copa. E até nisso violou os direitos humanos dos trabalhadores imigrantes, a maioria indianos, que participaram da construção dos estádios, novo metrô e outras obras.
Dados oficiais registraram a morte de 1345 indianos e 676 nepaleses, atribuídas a causas naturais, nas obras dos estádios, mas a Anistia Internacional e a Human Rights Watch suspeitam que foram pelo menos o dobro de mortes súbitas de jovens saudáveis (muitos trabalhando 18 horas ininterruptas), que ficaram sem investigação. A população do Catar é de quase 3 milhões, mas 75% são imigrantes que formam a massa de mão de obra, e apenas 280 mil catarianos.
De onde se conclui que o enorme acúmulo de riqueza de uma minoria, ao invés de tornar o reino do Catar uma monarquia justa, humana e marcada pela paz acabou transformando-a em um império de perversidade e banalização da vida.
Na Roda de Conversa com os estudantes, ficou a reflexão de que juntos devemos lutar pelos direitos humanos e a aprender a ver um jogo de futebol com o coração quente, mas com a cabeça fria, ou seja, com inteligência. E procurar enxergar o que existe por trás de uma Copa e de um exótico e aparentemente inocente turbante árabe.