No Seminário e Sarau Mulheres da Fronteira em Luta,
organizado dia 16 de março pelo Simted Corumbá, o ponto relevante foi roda de
conversa formada por Amanda de Paula (Central Única das Favelas - CUFA), Ashjan
Sadique Adi (secretária de Mulheres da Federação Árabe Palestina), Ednir de
Paulo (diretora do Instituto da Mulher Negra), Kelly Costa (diretora de
comunicação do Simted Corumbá), Leidiane Garcia (Mestra Cururueira e professora de viola de cocho) e pela
artesã Catarina Guató, com mediação da professora Simone Benitez
(vice-presidente do Simted Corumbá).
A banca de cultura contou com os livros de Marlene Mourão
(Peninha), Luiz Taques, Sérgio Pereira e da Maria Preta Cartonera, e com os
artesanatos de Catarina Guató. A apresentação musical ficou por conta da
vocalista Karina Cabral e banda Trio Rio. E a cobertura fotográfica de Marcos
Gonzaga, o Bolinha.
A professora e musicista Leidiane Garcia, mulher pioneira no
ensino e prática da viola de cocho em Mato Grosso do Sul, abriu o evento
apresentando-se ao lado de estudantes que formam o Grupo V.P.D.S. (Grupo Vocal,
de Percussão e Dança Siriri), que completa dez anos de criação em 2024. “Hoje
somos resistência feminina com a viola de cocho”, afirmou Leidiane, que em
novembro de 2023 recebeu o título de Mestra Cururueira concedido pelo Instituto
do Patrimônio Histórico e Artística Nacional (IPHAN).
Ednir de Paulo, diretora do Instituto da Mulher Negra
(IMNEGRA), alertou para a falta de atenção e pesquisas sobre as Quilombolas, a
história negra e região periférica de Corumbá, não só da parte alta da cidade
como da área do Pantanal, onde segundo ela o sistema educacional não recebe os
cuidados necessários. “A região do Paiaguás está em estado de calamidade, com
estrutura educacional e de saúde precárias, e esse caso já vem sendo
acompanhado pelo Ministério Público Federal”, ressaltou Ednir.
Mulher indígena que neste começo de ano recebeu o título de
doutora honoris causa da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), por
seu trabalho artesanal que contribui para preservar a cultura e a história da sua
etnia, Catarina Guató relatou as dificuldades enfrentadas por uma mulher
indígena artesã e sua resistência por meio do artesanato que abraçou como
profissão. Ela produz e vende belíssimas peças feitas com o aguapé – a folha do
camalote – que após seco e trançado se transformam em chapéus, bolsas, suportes
de mesa.
A ativista Amanda de Paula, dirigente da Central Única das
Favelas (CUFA), relatou sobre o trabalho de educação que o grupo de voluntárias
realiza no entorno do lixão, levando semanalmente materiais de estudo e apoio escolar
para crianças de famílias pobres, catadores e vendedores de resíduos
recicláveis, que encontram dificuldades de acesso às escolas ou que precisam de
reforço escolar. O grupo já conta com vinte voluntárias.
Falando em circuito online no telão, a ativista Ashjan Sadique Adi, secretária
de Mulheres da Federação Árabe Palestina (FEPAL), traçou um panorama dos
ataques do governo de Israel contra a faixa de Gaza, definindo a política
israelense como um “sionismo colonial, racista e genocida” que promove o
feminicídio e o infanticídio, e que precisa ser detida. Citou números: 8600 mulheres
e 13550 crianças palestinas mortas até o momento.
A professora Kelly Costa, diretora de comunicação do Simted
Corumbá, lembrou das suas origens periféricas, filha de pescador, ex-moradora
do bairro Cervejaria e ex-aluna da rede pública de ensino, e propôs levar o
debate Mulheres da Fronteira em Luta para a periferia. “Precisamos levar esse
debate para as comunidades para que essas discussões possam atingir e
conscientizar mais mulheres e não só apenas as que tem o privilégio de estar
aqui”, destacou a professora, que tem o sociólogo Pierre Bourdieu como
referência em sua crítica social. De acordo com Bourdieu, a sociedade ocidental
capitalista é uma sociedade hierarquizada, organizada segundo uma divisão de
poderes extremamente desigual, com mecanismos para a perpetuação desse modelo.
Enfim, é o que todos, ou quase todos, querem combater.