O começo foi assim, com muitos espantos, indagações,
preconceito e desconfiança. Teve de passar por cima de tudo isso para se impor
como “tocadora” e professora de viola de cocho. Foi importante o respeito de
homens como seu Sebastião Brandão, um dos mestres da viola de cocho, que mantém
uma oficina em Ladário e seu parceiro nos projetos que desenvolve desde o ano
de 2014, na escola e junto ao “Grupo de Siriri e Cururu da Família Garcia
Brandão”, criado no ano de 2022.
Hoje Leidiane Garcia toca o projeto Grupo V. P. D. S. –
Grupo Vocal, de Percussão e Dança Siriri, e transmite conhecimentos aos seus
alunos na disciplina de Arte, na Escola Cássio Leite de Barros, na Nova
Corumbá, além de ministrar aulas aos bolsistas de seu grupo e a alunos (as)
particulares aos sábados, cria e participa de outros projetos como musicista.
Neste 4 de março ela foi um dos destaques no Sarau e
Ciranda das Mulheres em Luta do Simted Corumbá. E contou a sua história.
Tudo começou em 2004, aos 17 anos, quando passou no
vestibular para Licenciatura em Música na UFMS em Campo Grande, onde nasceu.
Aos 18 anos começou a dar aulas em conservatórios e escolas de música, e não
parou mais.
Ao concluir seus estudos surgiu a oportunidade de ministrar aulas em um projeto social em Corumbá. Era o Moinho Cultural. Chegou aqui em março de 2008. “Não conhecia a viola de cocho. Então, no Moinho me falaram: aqui tem seu Agripino, o mestre da viola de cocho, você vai ter contato com ele”. E assim começou a se encantar pela viola de cocho, o típico instrumento pantaneiro que acompanha a dança do siriri, uma tradição em Mato Grosso do Sul e Mato Grosso.
Em 2009, esteve nas cidades de Cuiabá e Santo Antônio do
Leverger- MT, onde se aproximou da pesquisa de referência do professor Abel dos
Santos Anjos e das violas de cocho produzidas pelo artesão Alcides Ribeiro. De
lá trouxe violas de cocho para compor um naipe de instrumentos do “Moinho in
Concert: A Rainha Nuvem”.
Leidiane Garcia nasceu em Campo Grande, mas o sangue
paraguaio, por parte de mãe, corre nas veias da professora. Quando começou a
estudar violão clássico aos 13, ingressou na Orquestra de Violões de Campo
Grande, ganhou uma bolsa e não parou mais. “Essa experiência me levou a
escolher a música como profissão e alimento”, diz.
Colocou o Projeto Piloto: Música e Patrimônio (2018), entre
os 121 finalistas do Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade, instituído pelo
Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). O projeto teve
como objetivo “estimular a aproximação dos alunos (as) a cultura local através
da composição e execução dos instrumentos viola de cocho, ganzá (reco-reco de
bambu) e mocho (banco de couro percutido com baquetas de cabo de vassoura)”
instrumentos típicos do Pantanal. Além da realização da “Oficina do modo de
fazer a viola de cocho" junto ao mestre artesão Sebastião Brandão. O
projeto foi desenvolvido entre os alunos da Escola Cássio Leite de Barros, no
bairro Nova Corumbá.
“Em cada ano desenvolvo um projeto diferente, porém, com a
questão do patrimônio sendo um dos eixos do projeto desenvolvido”, diz. “O
primeiro projeto que desenvolvi foi em 2014, o Série Concertos na
Escola: Vivência e Prática Musical. Levei vários concertos para a sala de
aula.”, revela.
O primeiro concerto foi dedicado ao violão clássico. O segundo foi a primeira “Oficina do Modo de Fazer a Viola de Cocho”. Levou o mestre Sebastião Brandão para fazer a “Oficina do Modo de Fazer Viola de Cocho” e uma apresentação junto ao mestre Martinho (in Memoriam) e os alunos participantes. Depois levou o Grupo de Percussão do Instituto Moinho Cultural. “No último bimestre, o concerto da Orquestra do Campo e um Quarteto de Cordas”. “Paralelamente, na hora atividade, ocorreram os primeiros ensaios com meus alunos estudando percussão e voz, e criei o Grupo Vocal, de Percussão Siriri, com envolvimento das crianças”, e, na sequência, o grupo de dança surgia e se fundia aos demais componentes do Grupo Vocal, de Percussão e Dança do Siriri.
Em 2018 e 2019 seus alunos do município participaram do
Festival América do Sul e posteriormente, os alunos do seu projeto “Entre as
cordas: iniciação ao violão clássico e popular”, realizados na E.E. Dom Bosco e
E. E. Nathércia Pompeo dos Santos dentro do “Programa Arte e Cultura na Escola”
do governo do estado de MS. Eles ganharam a oportunidade de se apresentar
dentro e fora do espaço da escola. “Muitas crianças não acessariam esses
espaços se não fossem por essas ações´´, destaca.
Em 23/08 de 2021, com seu projeto Grupo Vocal, de Percussão
e Dança do Siriri realizou a apresentação de abertura do I Seminário Municipal
do Patrimônio Cultural de Corumbá integrado ao XI Simpósio Estadual de Educação
Patrimonial realizado pelo Governo do Estado de MS, no Centro de Convenções do
Pantanal, em Corumbá.
Em 24/08, no III Festival de Viola de Cocho com seu grupo
foi uma das ganhadoras do 1º Prêmio Agripino Magalhães de Cultura Popular, da
Fundação da Cultura e do Patrimônio Histórico de Corumbá.
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